sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Crônica da Semana
Falha no Sistema
Galvão*

Aprendi uma palavra nova: falha no sistema. Aliás, não é tão nova assim, mas só agora eu entendi o seu verdadeiro significado. Meu nome é Seixas, moro aqui na Júlio de Castilho, ao lado do Banco do Brasil. Hoje é segunda-feira, chuvosa, aqui em Campo Grande. Estou com um cheque de duzentos reais e preciso do dinheiro, ainda hoje pra pagar o uísque das crianças, como diria o Tom Jobim. Dirijo-me à agência Júlio de Castilho e falo com um atendente ali mesmo nos caixas eletrônicos:
- Amigo, preciso de uma orientação. Eu quero depositar esse cheque como dinheiro, aqui. Como faço?
- Bem, esse cheque é de outra agência. Não é possível depositá-lo como dinheiro. Só na agência de origem.
- Veja se dá pra fazer aqui, está chovendo e eu queria evitar ir até o centro. Me ajude!
- Não dá. Se depositá-lo aqui só será liberado quinta-feira. Pois tem que conferir assinatura....
- Quinta-feira? E o uísque das crian.... deixa pra lá. Mas com toda essa tecnologia, internet porque não dá, amigo?
- Essa tecnologia ainda não chegou aqui.
- Que não chegou aqui o quê? Isso é má vontade, isso sim! (aqui neste ponto eu começo a me irritar)
- Tudo, bem se quiser, poderá gastar 25 reais, eu passo um fax pra agência centro e a gente ver isso.
- Eh, rapaz, um fax é um real!!!
- E o trabalho?
- Que trabalho! Isso é má vontade. E se eu falar com o gerente?
- Não vai adiantar nada!!!
- Que bos...!!! Eu vou no centro agora mesmo.(saí irritado com o cinismo no rosto do atendente)
Outra palavra que aprendi, devido ao acidente fatal da Gol, foi ‘transponder”. Acho que deveríamos ter um “transponder” pra registrar certas conversas com funcionários públicos. Mas tudo bem, agora estou na agência centro, em frente à Praça Ari Coelho. Uma fila enorme. Mostro o cheque pra um atendente e repito a estória. Ele confere direitinho o cheque:
- Pode depositar no caixa eletrônico ali, daqui há mais ou menos duas horas estará liberado!
- Duas horas? Beleza.
Trocando em miúdos, hoje é quarta-feira, são três horas da tarde e nada do cheque ser compensado, depois de várias conferidas em saldos. E o uísque? Deixa pra lá. Ligo pra agência, consigo falar com alguém e explico a situação. Ela anota minha conta, pega o nome do dono do cheque que eu não sei direito. Pega meu telefone e me promete retornar. Nesse ínterim, ligo pro dono do cheque pra pegar o nome dele corretamente, importunando-o, caso o atendente precise de mais informação. Aguardo uns quarenta minutos e nada do telefone tocar. Aí percebo que cometi mais um erro: Nunca converse com um funcionário público sem identificar o nome dele. Ligo de novo e a telefonista me passa pra outro funcionário e agora que aprendi, o nome dele é Waldemar que tem muita dificuldade de identificar a conta do dono do cheque. Soletramos várias vezes o nome e depois de uns dez minutos de averiguação ele me tranqüiliza:
- Tudo ok, está liberado. Houve uma falha no sistema. Pedimos desculpas
- Tudo bem. Obrigadíssimo, Waldemar!!!
Os diálogos acima, os endereços e as datas são verídicos, exceto os nomes. Quanto ao uísque, agora eu só bebo cachaça.
Moral da história : Nestas épocas de tecnologias avançadas, mas nem tanto, não existe mais incompetência e sobretudo erro humano e sim é tudo FALHA NO SISTEMA.

*Galvão é o autor do Zé do Quiabo, músico de Campo Grande-Ms

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